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domingo, 23 de janeiro de 2011

LUÍS CURRO - O homem de R$ 100 mi


No cenário esportivo, até agora o principal assunto de 2011 no Brasil foi a novela Ronaldinho. O enredo baseou-se no leilão feito por seu irmão e empresário, Roberto de Assis, com clubes brasileiros interessados em repatriar o atleta.
A novela foi dada por encerrada há dias, com o "casamento" entre o jogador gaúcho de risada fácil e o Flamengo.
Por que voltar ao assunto?
Porque haverá novos capítulos -afinal, Ronaldinho tem contrato até o fim de 2014.
À beira dos 31 anos, Ronaldinho, desde a Copa da Alemanha, em 2006, tem mostrado apenas lampejos do futebol que o fez ser escolhido duas vezes (em 2004 e em 2005) o melhor jogador do mundo.
Como disse com sapiência Tostão, colunista desta Folha, hoje "Ronaldinho é um jogador de dois passes excepcionais e um ou outro drible espetacular, sem sair do lugar".
Mas foi o Milan descartá-lo para Flamengo, Palmeiras e Grêmio babarem. É o raciocínio "vale tudo pelo ídolo". O bolso agonizante é detalhe.
O Flamengo calcula que Ronaldinho ganhará R$ 100 milhões em quatro anos. Contará com ações de marketing, um boom na venda de camisas, uma arrecadação certamente recorde de bilheteria... Afinal, o que são R$ 100 milhões?
"Por ano são necessários R$ 5 milhões para desenvolver o esporte no país." Essa frase, que consta de reportagem publicada hoje no caderno Esporte, é do secretário-geral do Comitê Olímpico do Haiti.
Três meses dos ganhos previstos de Ronaldinho bastariam para o miserável e devastado país caribenho bancar um ano de todo seu esporte.
Em um terreno mais próximo: a dívida do Fla batia, em 2009, em R$ 333 milhões.
A economia com Ronaldinho não resolveria o problema, mas, se a verba fosse destinada para quitar os débitos, mostraria a intenção do clube de sair do buraco financeiro.
Em uma análise fria, para quê? Afinal, no Brasil, tudo é negociável. Alguém imagina o Flamengo quebrando? Como a bola rola, rola-se a dívida.
Voltando às quatro linhas: seleção. Nota-se desde sempre o apelo popular para ver Ronaldinho nela, e isso mesmo quando ele já se mostrava em declínio. De novo, é o raciocínio "vale tudo pelo ídolo".
Minha memória me intima a dizer que o último momento de fato útil de Ronaldinho pela seleção foi em 2005, com papel relevante na conquista da Copa das Confederações.
Na realidade da elite do futebol europeu, onde marcou época com dribles, arrancadas e gols, ele agora é lembrança. Foi mágico. Passou.
Ronaldinho deve estar em campo logo. Espera-se que esteja em forma e que faça jus a seu mais que polpudo salário.
Mas o Estadual do Rio não é parâmetro. Para quem podia buscar a ressurreição na Libertadores -o Grêmio jogará neste ano pela taça das Américas-, é quase uma fuga.

LUÍS CURRO é editor-adjunto de Esporte

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